domingo, 27 de abril de 2008

O Menino Flicts

O Menino da Lua
Melhoramentos (2006)
Ziraldo

A Terra é azul é, em sua simplicidade quase infantil, uma das frases mais emocionantes da história da humanidade. Proferida em 1961, pelo astronauta russo Yuri Gagarin, ao ver a Terra do espaço, ela deu cor ao nosso planeta, definiu os limites da nossa casa e mostrou ao homem seu lugar no universo, me acompanhando pela vida, como uma espécie de lembrete. Lê-la, de tempos em tempos, acompanhada da imagem da Terra azul coberta de nuvens, a flutuar no espaço, me recorda como as coisas simples da vida são grandiosas, e vice-versa.

A Lua é Flicts!, frase final do meu livro preferido do Ziraldo, também me acompanha pela a vida. Ela sempre me recorda que há lugar para todos, e que é preciso buscá-lo, mesmo fora dos limites do nosso mundo e, principalmente, fora de nossos próprios limites.

É difícil descrever o alívio e a alegria quando da descoberta de que flicts, a cor que não achava seu lugar em lugar nenhum da Terra, havia se encontrado. Mas é fácil dizer que Flicts é, com certeza, um dos mais belos livros que já li, apesar de sua trajetória ter sido um pouco ofuscada pelo avassalador Menino Maluquinho, dono de um carisma praticamente inigualável dentro da literatura infantil brasileira. Mas quem foi tocado por Flicts em uma era pré-maluquinha, jamais se esquecerá da cor da lua.

Como aos grandes mestres são permitidas variações sobre o mesmo tema, o novo livro de Ziraldo é uma espécie de Flicts que se passa em um futuro muito, muito distante. Aliás, a pequena explicação do autor, logo no início, sobre a época em que se passa a história, já valeria a leitura. Mas, como o prazer de passear entre as palavras e os traços de Ziraldo é inesgotável até o ponto final, aconselho a qualquer leitor a seguir adiante e conhecer a história de Zélen, o menino da Lua.

Zélen é um garoto que está a procurar seu lugar em nosso Sistema Solar. É pequeno, tem o rosto furadinho e, se você prestar atenção, ele é “cor de” flicts. O menino da lua queria muito fazer parte de uma turma que apronta todas em nosso sistema solar. Mas como cada menino representa um planeta, parece que ele não se encaixa ali. Será que Zélen vai encontrar seu lugar?

No fundo, somos como Flicts e Zélen, buscando eterna e diariamente nosso lugar. Buscando nos encontrar, todos os dias. E é por isso que, não importa quantas vezes, e de quantas formas Ziraldo conte essa história, seus leitores adorarão (re) lê-las.

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