quarta-feira, 16 de abril de 2008

Soturno e encantador




Os lobos dentro das paredes
Rocco Jovens Leitores (2006)
Neil Gaiman
Tradução de John Lee Murray

Ilustrações de Dave Mc Kean


Os livros infanto-juvenis de Neil Gaiman, o aclamado autor de Sandman, uma das mais badaladas graphic novels de todos os tempos, possuem uma estética que encontra paralelos nos filmes sombrios e estranhamente delicados de Tim Burton, como Edward Mãos-de-Tesoura ou A Noiva Cadáver.

Gaiman estreou nesta seara com Coraline, uma mistura gótico-pós-moderna de Alice no País das Maravilhas com As Crônicas de Nárnia. Pode até soar um pouco estranho (e estranho é a palavra-chave para definir Gaiman e sua obra), mas o resultado é perturbador e, ao mesmo tempo, encantador. Para os jovens leitores da atualidade, que amam climas de suspense com um toque de horror, e não têm medo de finais que deixem de seguir o padrão felizes-para-sempre, é um prato cheio.

Os lobos dentro das paredes não foge ao estilo daquele que se apresenta como um inglês que mora nos Estados Unidos, em uma casa esquisita, com a mulher, três filhos e excêntricas coleções de computadores e gatos, além de uma horta repleta de abóboras exóticas. O humor refinado e sombrio de Gaiman está mais do que presente na história de Lucy, uma garotinha que identifica os ruídos estranhos que saem da parede de sua casa como sendo obra de lobos.

A família, a princípio, nega as evidências, pois, “se lobos saírem das paredes, está tudo acabado”. Mas, uma noite, acontece o que todos temiam: os lobos saem e tomam posse de tudo. Assistem à sua televisão, jogam seus videogames, comem suas geléias, vestem suas roupas e, em festas de arromba, executam loucas danças lupinas. Começa então a reconquista da casa pela família exilada no quintal, até o final inesperado.

As ilustrações de Dave McKean, que contribuiu na produção do segundo e do terceiro filme da série Harry Potter (não por acaso o melhor deles em termos de visual, brumoso na medida certa), são fundamentais para o delicioso resultado do livro. O traço de McKean consegue ser anguloso e vitoriano, o que casa como uma luva com o estilo do autor; sem contar os recortes de fotografias e mapas, mais as estampas que parecem evocar Klimt. O projeto gráfico impecável, somado à fantasia e humor de Gaiman, torna Os lobos dentro das paredes simplesmente imperdível.

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