sexta-feira, 18 de abril de 2008

Viajando na História


Uma Viagem ao Tempo dos Castelos
Editora Landy (2005)
Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada
Adaptado para o português do Brasil
Ilustrações de Dave Santana e Mauricio Paraguassu


Em meu tempo de colégio, todo novo ano letivo trazia uma antiga certeza: a matéria de história começaria pelas Grandes Navegações. E, mais uma vez, nós, alunos, acompanharíamos as desventuras de Pedro Álvares Cabral e Pero Vaz de Caminha rumo às Índias, com uma rápida escala naquele enorme resort natural que já era Porto Seguro. É claro que o grau de dificuldade aumentava. Nomes, datas e lugares eram progressivamente acrescentados ao passado. O Venturoso. Vasco da Gama. Bartolomeu Dias. Sagres. A Tomada de Ceuta. 1415. Até que, andando para trás, feito caranguejo, chegávamos, no pré-vestibular, à Dinastia de Avis. Ufa!

Essa curiosa resolução didática era justificável por diversos motivos. Entre eles, o fato das Grandes Navegações serem o prólogo da entrada do Brasil na História Universal. No entanto, ela sempre conseguia deixar nos estudantes a sensação de que a história de Portugal passou direto das cavernas às caravelas. Era como se nenhum acontecimento digno de nota tivesse ocorrido neste intervalo. Ora, pois, ledo engano. Portugal é dono uma história riquíssima. Envolve celtas, romanos, mouros, guerreiros, castelos, reis e rainhas cercados por episódios tão fascinantes que muitos se tornaram lendas, ou algo próximo a isso. Como, por exemplo, o fantástico relato de heroísmo de Egas Moniz.

Uma Viagem ao Tempo dos Castelos conduz os jovens leitores portugueses, com muita graça, à Idade Média. Não ao medievalismo mergulhado na fantasia representado por Camelot, mas ao tempo em que personagens reais, como Dom Afonso Henriques, estavam a fazer nascer Portugal.

Ana e João não viam muita graça em passar suas férias na Serra do Marão. Mas, ao invés do tédio esperado, os dois encontram uma grande aventura. Através de uma máquina do tempo, eles voltam ao século XII, época da fundação de Portugal, onde conhecem diversos personagens históricos e observam seu modo de viver.

E o que nós, aqui no Brasil, temos a ver com tudo isso? Tudo e nada. Nada, porque certos episódios, como a fundação de Portugal, pertencem a um passado ainda distante das Grandes Navegações e, conseqüentemente, de nossa história. E tudo, porque só entenderemos quem nós somos realmente, como povo e nação, quando nos abrirmos a receber a história de nossos colonizadores.

Quase nada aprendemos de Portugal, salvo os episódios relacionados às Grandes Navegações, às Reformas Pombalinas e à fuga da Família Real para o Brasil, quando das Invasões Napoleônicas. Mas Portugal tem um passado de grande peso em nossa própria história. E, graças a determinadas heranças, como a lingüística, é muito provável que nossas histórias possam vir a se cruzar no futuro. Na televisão, por exemplo, elas já se cruzam. E, na literatura, os laços têm se reforçado cada vez mais.

Se penetrar na história de nossos antepassados pode ser feito de uma forma interessante e divertida, por que não aproveitá-la? Além disso, uma boa história para crianças independe da História. Mas saber usá-la ao seu favor para divertir e ensinar, como é o caso de Uma Viagem ao Tempo dos Castelos, ajuda bastante.

Em tempo: Egas Moniz era o escudeiro de Dom Afonso Henriques. Durante o cerco do rei de Leão e Castela a Guimarães, vendo que não tinham homens para resistir ao ataque, Moniz foi ao encontro do rei de Leão e prometeu-lhe, em troco da suspensão do cerco, a vassalagem de Afonso Henriques. Você prestou juramento ao rei de Leão? Não? Nem Afonso. Após derrotar sua mãe na Batalha de São Mamede, ele passou a governar o Condado Portucalense, sem a mínima intenção de obedecer a quem quer que fosse.

Homem de palavra, Moniz apresentou-se, com toda sua família, em trajes de condenado, com a corda no pescoço, ao rei de Leão e Castela. Pedia o resgate de sua honra através de sua morte, uma vez que não havia como cumprir sua palavra. Furioso, o rei quase mata mesmo todo mundo. No entanto, impressionado com a coragem daquele homem, acabou por deixá-lo partir, louvando sua lealdade e honradez. Embora enfeitado pelo tempo, o episódio é real. Em algum lugar, em alguma época da história do povo que construiu os alicerces da nossa sociedade, existiram homens assim. E é de histórias e de homens como estes que precisamos, cada vez mais, em nossa própria história.

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