sábado, 19 de abril de 2008

De perto, ninguém é normal


Vic
Autor: Cristiane Dantas
Ilustrações: Jean-Claude
Edições SM


Eu já havia recebido a notícia de que o meu livro estava pronto. Já havia conhecido uma prova do meu Era mais uma vez outra vez, texto vencedor do Prêmio Barco a Vapor 2006, por e-mail. Mas nada se compara à sensação de ter o livro pronto, “nascido”, em suas mãos. Ciente de que ele estava para chegar, recebi um envelope das Edições SM com o coração batendo de expectativa. Só que, ao abri-lo, vi sair dali de dentro o livro... Vic, da autora Cristiane Dantas!

Entrando em contato com a editora, descobri que meu livro seguira para a Cristiane e eu recebera o dela por engano. Vic é parte da deliciosa fornada dos melhores títulos que concorreram ao Prêmio Barco a Vapor daquele ano; eles costumam também ser publicados pela SM. No caso, esse fazia parte da série laranja, destinada aos leitores na faixa etária dos 10, 11 anos. Engano desfeito, risadas dadas, eu recebi meu livro poucos dias depois. E, de quebra, tive o privilégio de ser uma das primeiras leitoras do Vic. Portanto, no final das contas, descontada a ansiedade, a troca foi muito proveitosa. Quanto à Cristiane, soube depois que ela também se divertiu com a história da correspondência trocada e gostou muito do meu livro. Estamos, pois, empatadíssimas, pois também adorei o dela.

Mas vamos a quem interessa: à Vic. A menina que dá nome ao livro e sua família formam um daqueles divertidos microcosmos literários onde, mesmo de longe, ninguém é lá muito normal. A começar pela protagonista que, às vésperas de completar doze anos, é gótica de carteirinha, come cebola com laranja, não leva o mínimo jeito para qualquer atividade esportiva e, muito menos, para ser popular, seja entre os meninos, seja entre as meninas. Sua mãe é uma perua workaholic, a avó, uma enciplopédia de auto-ajuda, o meio-irmão, infernal. Para completar, a mãe resolve casar de novo, o que renderá à Vic um novo meio-irmão surfista e um avô que se revela um dos melhores personagens da trama.

Nem a família Osbourne seria tão freak e interessante quanto o grupo de personagens criados pela autora; aliás, referências pop e atuais são um constante no texto. Abusando de sua experiência de dez anos como roteirista de televisão, Cristiane é ágil nos diálogos, utilizando gírias e a linguagem adolescente com habilidade; é fácil sentir-se parte desse universo, bem como é fácil para os jovens leitores identificarem-se com Vic, mesmo sem nunca terem lido Edgar Allan Poe.

O melhor do texto é que, como diz a própria autora, essa história “não é conto de fadas, nem filme de sessão da tarde”. Os personagens não mudam da água para o vinho e nem do dia para a noite. Aceitação é a palavra de ordem em uma história em que a protagonista aprende a conviver com a família que tem e, sobretudo, consigo mesma. Ao dar este passo, a vida de Vic sai do canto mais fundo, escondido e escuro do poço, mas não passa a ser cor-de-rosa. Torna-se, sim, cheia de altos e baixos e de momentos fáceis e difíceis. De vez em quando, até segue em linha reta essa vida que “é meu bem, meu mal”. Ou seja, normalmente fora do normal. Como a de todo mundo.

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