terça-feira, 16 de março de 2010

Xadrez em dois tempos

O Enigma do Oito
Best-Seller (1988)
Katherine Neville
Tradução de Elizabeth e Djalmir Mello

Quem leu, leu. Quem não leu, vai ter que procurar em um sebo esse cult envolvendo um poderoso jogo de xadrez que teria pertencido a Carlos Magno.

Quando ainda mal se falava em thrillers envolvendo personagens históricos, a norte-americana Katherine Neville escreveu O Enigma do Oito. Na época, o livro não alcançou, no Brasil, o mesmo sucesso que obteve lá fora. Muitos anos depois de sua publicação, The Eight, título original do livro, ainda pode ser encontrado, com razoável destaque, nas prateleiras de grandes livrarias estrangeiras. É um cult. Mas, aqui no Brasil, quem quiser lê-lo, terá que buscar em sebos.

A trama de O Enigma do Oito se passa em dois tempos: o período pós-revolucionário francês e a década de 70. Ambos esbanjam ritmo, cenários históricos como a Rússia Imperial, ou ainda exóticos, como a Argélia. Seus inúmeros personagens foram construídos com competência e são envolventes.

Em um convento no interior da França, prestes a ser invadido pelos revolucionários, freiras e noviças recebem da madre superiora uma estranha incumbência: guardar, em segurança, peças de um jogo de xadrez que teria pertencido a Carlos Magno. Cada qual recebe uma valiosa figura, que deveria proteger com a própria vida, se necessário.

É na saída do convento, para a violência de uma França em ebulição que a jovem e, de início, apagada Mireille, tentará sobreviver e ser bem-sucedida em sua missão. O que ela não sabe é que se tornou uma peça “viva” em um jogo perigoso, que também será vivido, no século XX, por Catherine Velis, uma analista de sistemas ligada à história do jogo misterioso. Levada ao jogo por um campeão russo de xadrez, a moça vê-se enredada em uma trama que fornece a chave para uma cobiçada fórmula.

Os personagens, identificados com as figuras do xadrez, se enfrentam por um segredo milenar, oculto nas peças que ambos os lados, preto e branco, opostos entre si, tentarão encontrar e reunir. E não serão Mireille e Catherine as únicas jogadoras dessa partida mortal. Figuras históricas como Napoleão, Talleyrand, Casanova, Voltaire, Rousseau, Robespierre e Catarina, a Grande, fazem parte da trama, desempenhando diversos e, muitas vezes, decisivos papéis em um enigma engendrado de forma inteligente e empolgante.

É uma pena que, na época, O Enigma do Oito não tenha emplacado no Brasil com a mesma força de seu país de origem. Tempos depois, embalada pelo sucesso de The Eight, a autora escreveu The Magic Circle, uma história inferior a O Enigma do Oito em matéria de trama, mas também hábil em inserir personagens históricos em uma aventura cheia de suspense e ação. Ambos têm sua classe e sabem prender um leitor que esteja em busca de uma diversão inteligente e elegante.