terça-feira, 3 de novembro de 2009

Extremamente belo e incrivelmente inteligente

Extremamente Alto & Incrivelmente Perto
Editora Rocco (2006)
Jonathan Safran Foer
Tradução: Daniel Galera

O.K. Não é um livro infanto-juvenil. Mas o protagonista é um menino. Não foi feito "para crianças". Mas é uma das melhores histórias sobre uma delas que li nos últimos tempos. E, cá entre nós, O Pequeno Príncipe foi mesmo feito para crianças?

Na verdade, é difícil até achar a palavra certa para definir esse livro de Jonathan Safran Foer. Tentei usar, em uma conversa, a palavra “comovente”, mas achei que soava piegas, o que não combinava, em absoluto, com o livro. Apelei, então, dizendo que era “comovente, mas não era do tipo que faz você chorar”. E ressalvei: “é comovente e, no entanto, faz você sorrir. Mas não é engraçado. Quer dizer, é. Mas muito triste ao mesmo tempo”.

Foi em meio a esse turbilhão de adjetivos inadequados e emoções conflitantes, que a palavra “patético” me veio a mente, antes que eu me transformasse no personagem de Foer que, após o bombardeio de Dresden, durante a Segunda Guerra Mundial, vai perdendo as palavras e a capacidade de falar e comunicar seus sentimentos.

Temos o hábito de ligar “patético” à palermice. Mas uma situação patética, levando a sério a definição do dicionário, não evoca a idiotice. Fica entre o choro e o riso, despertando um sentimento de piedade ou tristeza. Uma situação patética confrange, toca e expõe as fraquezas humanas como um espelho, provocando, ao mesmo tempo, um nó na garganta e um sorriso no canto da boca do leitor.

Oskar Schell, o protagonista de Extremamente Alto & Incrivelmente Perto é um dos mais interessantes meninos de nove anos que o leitor conhecerá, durante muitos anos, na literatura contemporânea. O garoto é uma figurinha inteligente, espirituosa e carente, dono de habilidades, manias e idéias originalíssimas.

Um dia, o mundo de coleções, cartinhas para cientistas famosos e caças ao tesouro de Oskar cai, literalmente, por terra quando o pai, seu maior amigo e companheiro, morre no atentado das Torres Gêmeas. A última caça ao tesouro proposta por ele permaneceu sem resposta. Aliás, toda vida de Oskar parece sem resposta, até o dia em que ele encontra no closet do pai uma misteriosa chave. Ela está dentro de um envelope, onde se vê escrita apenas uma palavra: Black. Black pode ser muitas coisas, mas, enquanto permanecer sem significado para o menino, será apenas escuridão. Em busca da solução do mistério, Oskar varrerá os cinco distritos de Nova York à procura de uma fechadura para a chave. E de um sentido para sua vida.

Como em quadro de Hopper, o livro traz à tona uma solidão sufocante. Mas é extremamente belo e incrivelmente inteligente. Os personagens que surgem ao longo da busca desse pequeno príncipe pós-moderno são, em sua maioria, comoventes e originais. O olhar agudo e, ao mesmo tempo, infantil de Oskar torna tudo e todos não apenas interessantes, mas inesquecíveis. E a criatividade de Jonathan Safran Foer torna a busca de Oskar ainda mais instigante, ao lançar mão de fotografias, gravuras e tantos efeitos especiais gráficos quanto se pode usar em um livro para adultos. É quase um livro-instalação, feito para ser lido, tocado, revirado, investigado. E sentido, mais do que tudo. Pois o autor foge do cinismo que, tantas vezes, impera na literatura contemporânea, e faz a difícil opção pelo sentimento. Escrevendo de forma extremamente trágica e incrivelmente cômica, ele revela-se um mestre na construção de cenas patéticas, com tudo de tocante e poético que o verdadeiro significado dessa palavra encerra.

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