domingo, 15 de novembro de 2009

Buscando diferenças, topando com igualdades


O Clube dos Sete (2001)
Editora 34
Marconi Leal
Ilustrações: Newton Foot

Uma das matérias mais interessantes com a qual já me deparei na minha vida acadêmica chamava-se “Imagens e representações do Brasil”. Nela, a antropóloga e socióloga Maria Cláudia Coelho mostrava, através de dois filmes nacionais, o que nós, brasileiros, temos de particular e o que temos de comum com os outros povos.

O primeiro filme era “Dona Flor e seus Dois Maridos”. Lá estavam a brejeirice morena de Flor, a gaiatice de Vadinho e muitos outros traços que distinguem nossos tipos e nossa cultura das outras. O segundo era “Eu sei que vou te amar”. E o curioso é que não encontramos ali nenhum marca registrada de brasilidade. Aqueles personagens poderiam ter qualquer nacionalidade, e a história poderia se passar em qualquer lugar.

Os alunos protestaram, dizendo que no segundo filme não havia nada característico do Brasil. Ao que foi argumentado de volta, com muita razão, que aquilo ali na tela também era Brasil.

Estamos sempre buscando diferenças, mas a verdade é que temos hábitos, sentimentos, padrões de comportamento como o de muitos seres humanos de diversas partes do planeta. Ser brasileiro é muito singular e, ao mesmo tempo, é igual a ser francês, americano, africano ou japonês. E tal raciocínio, é claro, pode ser aplicado, da mesma forma, a regiões, estados ou mesmo cidades brasileiras, como São Paulo e Rio de Janeiro.

O Clube dos Sete me chamou a atenção, na preliminar leitura de orelha que antecede a compra, justamente porque a trama se passa no Recife. E, procurando pelos traços singulares que teria uma história de detetives do Nordeste, eu encontrei os traços comuns entre as diversas regiões e estados brasileiros.

A trama, interessante e bem-amarrada, poderia se passar em qualquer metrópole do país, estrelada por qualquer grupo de jovens. Eles são inteligentes, amigos, engraçados e enfrentam dilemas comuns a quaisquer garotos, como, por exemplo, cobiçar a namorada do próximo. Até aí, nada diferente. E por que deveria ser diferente? Pelo simples fato de se passar em Recife?

Marconi Leal mostra, em O Clube dos Sete, que apesar do cenário fugir ao padrão Rio-São Paulo, estamos lidando com personagens tão carismáticos e espertos quanto os jovens detetives paulistanos de Pedro Bandeira ou a provocante carioca Carol, de Carlos Heitor Cony e Anna Lee. E o mais interessante é que os próprios personagens centrais, meninos bem-nascidos do Recife, que nunca tinham apanhado um ônibus na vida, descobrem que os meninos do recifense Morro da Maré também têm um clubinho. São os traços comuns, mais uma vez, superando os singulares. Dessa vez, dentro das classes sociais de uma das “cidades partidas” brasileiras.

Ah, como esses garotos “de família” vão parar no morro? Ora, como em qualquer boa história de detetive de qualquer parte do Brasil! Uma mensagem misteriosa em código os leva até lá, depois que o avô do narrador João, um ex-militante de esquerda perseguido pelo regime militar, sofre uma espécie de atentado. Para saber mais, só lendo o livro, para descobrir, além do mistério em si, tudo o que o Recife tem; não de diferente, mas, sim, de igual às outras cidades do Brasil e do mundo.

As aventuras de O Clube dos Sete continuaram em mais dois livros: O Sumiço e Perigo no Sertão.

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