domingo, 3 de agosto de 2008

O Ciclo das Palavras

O menino que guardava as palavras na barriga
Girafinha (2006)
Juva Batella
Ilustrações de Fabiana Salomão


Um menino acredita que as palavras são guardadas na barriga – e sua quantidade estaria ligada à extensão da vida.

Onde você guarda suas palavras? Em alguma obscura região do cérebro cujo nome lhe escapa? Pois Joaquim, um esperto menino de sete anos, passa a acreditar, depois de uma visita a um hotel fazenda, que elas são guardadas na barriga.

Mesclando a sabedoria popular, representada na figura do jardineiro da fazenda, às crenças do povo Dogon, da África Ocidental, que liga as palavras à continuidade, Juva Batella cria um belo livro sobre as palavras e a importância que elas têm em nossa vida.
Tão essenciais como a nossa respiração, nosso fim estaria relacionado ao fim das palavras que estão dentro de nós – em nossa barriga.

Esta é a história que Joaquinzinho Quinzinhozinho, como o menino pomposamente gosta de ser chamado, ouve do jardineiro. Curioso e aberto a conhecer novidades como, na maior parte do tempo, apenas as crianças conseguem ser, o menino é apresentado, através das palavras do velho ao misterioso “homem do chapéu verde”, que pegaria nomes de crianças para aumentar o estoque de sua barriga e, em conseqüência, prolongar seu tempo.

Impressionado, o menino volta da fazenda calado, fazendo-se chamar apenas de Quim. Está disposto a economizar palavras e prolongar a sua ainda curta existência. No entanto, é trocando palavras com o pai que ele aprende que a vida possui um ciclo natural que independe das palavras, e que há uma forma muito mais simples de manter a barriga sempre cheia delas – e ele até já o aprendeu na escola.

As palavras oferecidas pelo autor enchem gostosamente a barriga. E terminamos a leitura-estocagem certos de que precisamos aprender a armazená-las, mas, também, a vencer nossa timidez, nossa hesitação em soltá-las no mundo. É preciso aprender a trocá-las com os outros e a libertá-las – através das nossas colocações em sociedade, das nossas manifestações de amor e afeto, da nossa escrita. Sobretudo, é aprendendo a viver e aceitar os ciclos da vida que fazemos, no fundo, com que todas as palavras que moram em nós não se esgotem, jamais.

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